Após a derrota na final da Copa do Mundo de 1950, o técnico Flávio Costa deixou o comando da Seleção Brasileira. Em 1952 o novo compromisso da seleção era a disputa do 1º Campeonato Pan-Americano, realizado em Santiago, no Chile. O novo treinador escolhido pela Confederação Brasileira foi Zezé Moreira, que se sagrara campeão carioca de 1951 com o Fluminense com uma equipe que fazia uma marcação por zona (o que foi novidade no futebol brasileiro), tendo conquistado o título no Rio de Janeiro com um destacado sistema defensivo, em uma equipe que tinha limitações técnicas ofensivas bem marcadas. Houve uma grande polêmica pelas não convocações de Zizinho e Jair Rosa Pinto, para as quais a justificativa do novo treinador foi a de que precisava de jogadores mais aplicados taticamente e menos individualistas.
O torneio foi um hexagonal, com quatro representantes da América do Sul e dois das Américas Central e do Norte. A grande ausência foi a Argentina, que seguia afastada de todas as competições internacionais desde 1947 por problemas políticos internos. Assim, os dois grandes favoritos eram Uruguai e Brasil. Os uruguaios tinham praticamente a mesma equipe que havia sido campeã da Copa do Mundo dois anos antes no Rio de Janeiro. Chile, Peru, México e Panamá foram os outros quatro participantes, não tendo Paraguai e Estados Unidos também participado do torneio.
A Seleção Brasileira fez sua estreia contra o México, a quem goleara na estreia da Copa do Mundo de 1950. Desta vez também venceu, mas com margem mais modesta no placar. Mas foi uma vitória sem sustos, por 2 a 0. No segundo jogo, um empate sem gols contra o Peru fez surgir fortes críticas ao defensivismo da equipe de Zezé Moreira, que fugiria à tradição ofensiva do estilo de jogo brasileiro. As críticas se amenizaram quando o Brasil goleou ao Panamá por 5 a 0 no jogo seguinte, ainda que tenha havido críticas cobrando uma vitória ainda mais elástica dada a fragilidade técnica do adversário, que havia perdido por 6 a 1 para o Chile e por 7 a 1 para o Peru. Uruguai e Chile também tinham obtido goleadas sobre o México, contra quem a vitória brasileira havia sido mais magra.
A decisão seria nas duas últimas rodadas, para as quais Uruguai e Chile chegavam com três vitórias, e o Brasil com duas vitórias e um empate. A "Celeste Olímpica" tinha 6 remanescentes do time campeão mundial dois anos antes no Maracanã: Máspoli, Matías González, Rodríguez Andrade, Ghiggia, Julio Pérez e Oscar Miguez. A primeira decisão foi no jogo entre chilenos e uruguaios, no qual os anfitriões surpreenderam, vencendo por 2 a 0, com gols de Atilio Cremaschi e Manuel Muñoz. Na sequência era a vez da Seleção Brasileira reencontrar ao Uruguai para um duelo que a imprensa brasileira estava tratando como uma vingança do "Maracanazzo".
Diferentemente dos uruguaios, a Seleção Brasileira que foi ao Chile era mais renovada frente à do Mundial de 50. Jovens como Djalma Santos, Nilton Santos, Didi e Julinho Botelho tinham ganho protagonismo. Dos personagens da derrota no Maracanã, estavam apenas Bauer, Friaça e Ademir Menezes entre os que entraram em campo contra os uruguaios no Estádio Nacional de Santiago. E o renovado escrete brasileiro impôs uma vitória convincente. Didi e Rodrigues fizeram 2 a 0 no 1º tempo. Miguez descontou no início da segunda etapa, mas Baltazar e Pinga marcaram mais dois para impor convincentes 4 a 1 no placar.
No finzinho do jogo, ainda foi assinalada uma penalidade que serviu para os uruguaios amenizarem em parte a enfática derrota. Após o gol de pênalti no minuto final, ainda houve tempo para o centroavante Oscar Miguez fazer uma falta duríssima em Ely no recomeço da partida, que levou os dois a trocaram agressões físicas, o que deu início a uma briga generalizada envolvendo os jogadores das duas equipes. Mais uma vez, pela terceira vez, o confronto entre Brasil e Uruguai terminava numa grande confusão, como vinha ocorrendo desde meados dos Anos 1940. Notoriamente, passou a acontecer após a Seleção Brasileira conseguir equilibrar as forças no duelo e passar a obter vitórias com mais frequência, dando fim a uma hegemonia técnica que os uruguaios demonstravam ter sobre os brasileiros até os Anos 1930.
Com a vitória sobre a equipe celeste, no último jogo, Brasil e Chile se enfrentavam no Estádio Nacional com os donos da casa tendo a vantagem do empate para que se sagrassem campeões. Era a oportunidade para que a Seleção Chilena, em casa e com estádio lotado, conquistasse o primeiro título de sua história no futebol, e lhes bastava um empate. Era quase um espelho da situação do Brasil diante do Uruguai dois anos antes no Maracanã.
Só que a Seleção Brasileira não lhes deu chance alguma de vitória. Ademir Menezes marcou dois gols logo no início da partida e esfriou os ânimos chilenos. A partir de então, o time brasileiro administrou o resultado enquanto o relógio corria. Nos minutos finais, Pinga ainda marcou o terceiro e sacramentou a vitória: 3 a 0! Pela primeira vez em sua história a Seleção Brasileira conquistava um campeonato jogado no exterior. Um título marcante, ainda que pouco lembrado, dado que o Campeonato Pan-Americano não vingou historicamente, com duas outras edições disputadas posteriormente que foram esvaziadas, jogadas sem a presença dos principais jogadores das principais equipes. O torneio acabou vindo a ser extinto após 1960.
Seleção Brasileira em 1952
JOGOS NO ANO:
06/04/1952 - BRASIL 2 x 0 MÉXICO
Campeonato Pan-Americano - Estádio Nacional, Santiago, Chile
Gols: Baltazar (10'2T) e (26'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Arati (Botafogo), Pinheiro (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo); Bauer (São Paulo) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians), Ademir Menezes (Vasco) (Pinga (Portuguesa de Desportos)) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Téc: Zezé Moreira
México: Antonio Carbajal (León), Antonio Battaglia (León) e Alfonso Montemayor (León); Saturnino Martínez (León), Carlos Blanco (Necaxa) e Rafael Rivera (Chivas Guadalajara); José Luis Molina (León) (Guillermo García Vélez (Necaxa)), José Naranjo (Deportivo Oro), Adalberto "Dumbo" López (Deportivo Oro) (José Luis Lamadrid (Necaxa)), Tomás Balcazar (Chivas Guadalajara) (Luis Luna (León)) e Carlos Septién (Tampico).
Téc: Antonio López Herranz
10/04/1952 - BRASIL 0 x 0 PERU
Campeonato Pan-Americano - Estádio Nacional, Santiago, Chile
Brasil: Castilho (Fluminense), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo); Bauer (São Paulo) (Ely (Vasco)) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians), Ademir Menezes (Vasco) (Pinga (Portuguesa de Desportos)) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Téc: Zezé Moreira
Peru: Walter Ormeño (Boca Juniors/ARG), César Brush (Deportivo Municipal) e Guillermo Delgado (Huracán de Medellín/COL) (Adolfo Cabada (Deportivo Municipal)); René Rosasco (Atlético Chalaco), Cornelio Heredia (Alianza Lima) e Rafael Goyeneche (Alianza Lima); Gilberto Torres (Universitario), Máximo Mosquera (Deportivo Municipal) (Valeriano López (Sport Boys)); Manuel Rivera (Deportivo Municipal), Roberto "Tito" Drago (Independiente Medellín/COL) e Ernesto Morales (Atlético Chalaco).
Téc: Alfonso Huapaya
13/04/1952 - BRASIL 5 x 0 PANAMÁ
Campeonato Pan-Americano - Estádio Nacional, Santiago, Chile
Gols: Baltazar (5'1T), Rodrigues (8'1T), Julinho Botelho (20'1T), Rodrigues (12'2T) e Pinga (25'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo); Ely (Vasco) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos) (Friaça (Vasco)), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians) (Ademir Menezes (Vasco)), Pinga (Portuguesa de Desportos) (Rubens (Flamengo)) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Téc: Zezé Moreira
Panamá: Gerardo Warren (Hispano), Manuel Figueroa e José Mendoza (Santiago Jordán); Alfredo Sandiford (Hispano), Félix Tejada (Deportivo Ancón) e Reinaldo Carrillo (Hispano); Roberto Linares (Amador), Carlos Torres (Deportivo Ancón), Carlos Martínez (Deportivo Ancón), Horacio Rangel (Ibérico) e Luis Carlos Rangel (Ibérico).
Téc: Oscar Rendoll Gómez
16/04/1952 - BRASIL 4 x 2 URUGUAI
Campeonato Pan-Americano - Estádio Nacional, Santiago, Chile
Gols: Didi (24'1T), Rodrigues (32'1T), Miguez (9'2T), Baltazar (26'2T), Pinga (40'2T) e Cancela (44'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense) (Gérson Camelo (Botafogo)) e Nilton Santos (Botafogo); Ely (Vasco) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Friaça (Vasco) (Bauer (São Paulo)), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians) (Pinga (Portuguesa de Desportos)), Ademir Menezes (Vasco) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Téc: Zezé Moreira
Uruguai: Roque Máspoli (Peñarol), Matías González (Cerro), Héctor Vilches (Cerro) e Víctor Rodríguez Andrade (Peñarol); Uribe Durán (Nacional) (Nelson Cancela (Cerro)) e Omar Ferreira (Defensor Sporting); Alcides Ghiggia (Peñarol) (Julio César Britos (Peñarol)), Julio Pérez (Nacional), Oscar Miguez (Peñarol), Julio César Abbadíe (Peñarol) (Washington Loureiro (Nacional)) e Ernesto Vidal (Peñarol) (Luis Castro (Defensor Sporting)).
Téc: Juan López
20/04/1952 - BRASIL 3 x 0 CHILE
Campeonato Pan-Americano - Estádio Nacional, Santiago, Chile
Gols: Ademir Menezes (9'1T) e (18'1T), e Pinga (41'2T)
Brasil: Castilho (Fluminense) (Osvaldo Baliza (Botafogo)), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo); Ely (Vasco) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians) (Ipojucan (Vasco)), Ademir Menezes (Vasco) (Pinga (Portuguesa de Desportos)) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Téc: Zezé Moreira
Chile: Sergio Livingstone (Universidad Católica), Adelmo Yori (Audax Italiano) e Arturo Farías (Colo Colo); Fernando Roldán (Universidad Católica), Ramiro Cortés (Audax Italiano) (Carlos Rodolfo Rojas (Unión Española)) e Osvaldo Sáez (Colo Colo); Enrique Hormazábal (Santiago Morning), Atilio Cremaschi (Unión Española), Mario Lorca (Unión Española) (René Meléndez (Everton)), Manuel Muñoz (Colo Colo) e Guillermo Díaz Carmona (Santiago Morning) (Pedro Hugo López (Unión Española)).
Téc: Luis Tirado
RESUMO:
Seleção Brasileira de 1952:
Castilho (Fluminense), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Pinheiro (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo); Ely (Vasco) e Brandãozinho (Portuguesa de Desportos); Julinho Botelho (Portuguesa de Desportos), Didi (Fluminense), Baltazar (Corinthians), Ademir Menezes (Vasco) (Pinga (Portuguesa de Desportos)) e Rodrigues Tatu (Palmeiras).
Artilharia: Baltazar (4), Rodrigues Tatu (3), Pinga (3), Ademir Menezes (2), Julinho Botelho (1) e Didi (1)
Participação:
5 jogos: Castilho, Pinheiro, Nilton Santos, Brandãozinho, Didi, Baltazar, Ademir Menezes, Pinga e Rodrigues Tatu
4 jogos: Djalma Santos, Ely e Julinho Botelho
3 jogos: Bauer
2 jogos: Friaça
1 jogo: Osvaldo Baliza, Arati, Gérson "Camelo" dos Santos, Rubens e Ipojucan
SELEÇÃO OLÍMPICA
O futebol brasileiro entrou em campo pela primeira vez nas Olimpíadas em 1952. E aquela foi a primeira vez em que utilizou uma camisa amarela, mas com calções verdes. Como os Jogos Olímpicos são organizados pelo Comitê Olímpico, o Brasil não utilizou nem o uniforme nem o escudo da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). A camisa tinha escrito Brasil no meio do peito, e abaixo tinha as estrelas do Cruzeiro do Sul. Só amadores podiam jogar as Olimpíadas, por isto o time brasileiro era formado por jovens com idade média de aproximadamente 18 anos.
A seleção era formada inteiramente por jogadores que atuavam no Rio de Janeiro. E foi um time que revelou alguns talentos para a história do futebol, como os campeões mundiais Zózimo e Vavá, e o atacante Humberto Tozzi, na época jogador do São Cristóvão, e que fez história com a camisa do Palmeiras, campeão brasileiro de 1960, e com a camisa da Lazio, da Itália, onde atuou de 1956 a 1960.
A campanha brasileira teve vitórias sobre Holanda e Luxemburgo, mas o time acabou eliminado na prorrogação pela Alemanha Ocidental no jogo seguinte, pela fase quartas de final, após um 2 a 2 no tempo normal, os alemães marcaram duas vezes no tempo extra. As semi-finais tiveram Hungria vs Suécia, e Iugoslávia vs Alemanha. Os países do leste europeu, sob o regime socialista/comunista, não tinham futebol profissional, logo atuavam com suas seleções adultas principais. A campeã acabou sendo a Hungria, que atuava com: Grosics, Buzanszky, Lorant e Lantos; Zakarias e Bozsik; Palotas, Puskas, Hidegkuti, Kocsis e Czibor. Time que cruzaria o caminho da Seleção Brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo disputada dois anos depois na Suíça.
Seleção Olímpica de 1952
JOGOS:
16/07/1952 - BRASIL 5 x 1 HOLANDA
Jogos Olímpicos - Estádio Municipal, Turku, Finlândia
Gols: Larry (2), Humberto Tozzi, Jansen, Vavá e Van Roessel
Brasil: Carlos Alberto (Vasco), Valdir (Bonsucesso), Mauro (Fluminense), Zózimo (Bangu) e Adésio (Vasco); Édson (Bangu) e Mílton (Fluminense); Humberto Tozzi (São Cristóvão), Larry (Fluminense), Vavá (Vasco) e Jansen (Vasco).
Téc: Newton Cardoso
Holanda: Kraak, Odenthal, Alberts e Wiertz; Terlouw, Biesbrouck e Van der Kuil; Bennaars, Van Roessel, Mommers e Clavan.
Téc: Jaap Van Der Leck
20/07/1952 - BRASIL 2 x 1 LUXEMBURGO
Jogos Olímpicos - Park Stadion, Kotka, Finlândia
Gols: Larry, Humberto Tozzi e Gales
Brasil: Carlos Alberto (Vasco), Valdir (Bonsucesso), Mauro (Fluminense), Zózimo (Bangu) e Adésio (Vasco); Édson (Bangu) e Mílton (Fluminense); Larry (Fluminense), Humberto Tozzi (São Cristóvão), Vavá (Vasco) e Jansen (Vasco).
Téc: Newton Cardoso
Luxemburgo: Lahure, Wagner, Spartz e Jaminet; Reuter, Guth e Muller; Roller, Gales, Nurenberg e Letsch.
Téc: Adolf Pateck
24/07/1952 - BRASIL 2 x 4 ALEMANHA
Jogos Olímpicos - Estádio Olimpico, Helsinque, Finlândia
Gols: Larry, Zózimo, Zeitler, Schroder (2) e Klug
Brasil: Carlos Alberto (Vasco), Valdir (Bonsucesso), Mauro (Fluminense), Zózimo (Bangu) e Adésio (Vasco); Édson (Bangu) e Mílton (Fluminense); Larry (Fluminense), Humberto Tozzi (São Cristóvão), Vavá (Vasco) e Jansen (Vasco).
Téc: Newton Cardoso
Alemanha OC: Schonbeck, Eberle, Jager e Sommerlatt; Schafer, Post e Hinterstocker; Stollenwerk, Zeitler, Schroder e Klug.
Téc: Sepp Herberger
Seleção Olímpica de 1952:
Carlos Alberto (Vasco), Valdir (Bonsucesso/RJ), Mauro (Fluminense), Zózimo (Bangu) e Adésio (Vasco); Édson (Bangu) e Mílton (Fluminense); Larry (Fluminense), Humberto Tozzi (São Cristóvão/RJ), Vavá (Vasco) e Jansen (Vasco).
Artilharia: Larry (4), Humberto Tozzi (2), Jansen (1), Vavá (1) e Zózimo (1)